quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Uva Zinfandel




A uva Zinfandel é uma variedade tinta plantada em mais de 10% dos vinhedos da Califórnia. A identificação de DNA revelou que ela é geneticamente equivalente a uva croata  Crljenak Kaštelanski, e também a Primitivo variedade tradicionalmente cultivada no "calcanhar" da Itália.

A uva encontrou o seu caminho para os Estados Unidos em 1820, e ficou conhecida pelo nome "Zinfandel", rapidamente percorreu todo o país ganhando notoriedade pelo seu vigor e alta produtividade. Durante a corrida do ouro do final do século 19 a uva Zinfandel era uma das favoritas dos mineiros e a saudade entre os imigrantes italianos, para o vinho semelhante ao da sua pátria. A Lei Seca não abrandou o seu crescimento, e na década de 1950 ocupou algumas das mais famosas áreas do norte da Califórnia. Como outras variedades cresceu em popularidade, a Zinfandel foi eleita a produzir principalmente vinhos de jarra para as regiões quentes do centro da Califórnia. Um grande excedente na década de 1980 levou à produção de White Zinfandel, feito por qualquer redução do contato do vinho com a pele da uva durante a fermentação, ou misturá-lo com uvas brancas, como a Riesling. Este foi um grande sucesso, e a versão verdadeira de Zinfandel foi sendo empurrado para a beira do esquecimento.




ROBERT MONDAVI - durante a década de 1990, poucas vinícolas da Califórnia começaram a fazer maravilhosos tintos da uva Zinfandel. Vinícolas como Ridge, e Robert Mondavi, provaram que poderiam fazer um Zinfandel com maior “peso”, um vinho generoso e de classe mundial.

Uma explosão ocorreu em popularidade e hoje existem centenas de Zinfandels vinda de todas as principais regiões produtoras de vinho da Califórnia. Os especialmente bons, são as versões que apresentam uma produção de "vinhas velhas". O "velho", neste caso, são as videiras muitas vezes de 40 anos ou mais.




Produtores têm substituído suas vinhas por Cabernet Sauvignon (no Napa Valley), Pinot Noir (em Russian River) e Syrah (em Paso). Não por acaso, pois a Zinfandel não está isenta de falhas. Apesar de sua resistência à podridão e doenças, o cultivo desta uva na Califórnia, onde já foi a mais plantada nos EUA, sofre de dois problemas primários, que levam a alguns outros subsequentes: 1º um índice elevadíssimo de rendimento, o que dificulta a produção de vinhos concentrados; 2º talvez o mais grave, a maturação irregular dos cachos - enquanto alguns frutos já estão sobre-maduros, quase uvas passas, outros permanecem verdes. Isso faz com que a produção de Zinfandel demande um cuidado enorme, com podas regulares e extensivas (para rendimentos mais baixos) e extrema cautela na colheita - às vezes, uva a uva - para que os frutos sejam colhidos cada um no seu tempo devido de maturação. Como muitos vinhos é a adega ou o produtor que importa tanto quanto o ano ou local.

Logo, a produção de vinhos de maior qualidade, o custo de produção se torna elevadíssimo e a cepa talvez não garanta vinhos que façam valer tanto esforço. Numa terra em que tintos à base de Cabernet Sauvignon e Pinot Noir têm seu valor de mercado até três vezes maior que o das outras variedades, por que plantar algo que se vende a preços baixos e, para piorar, tem alto custo de produção?

Uma das saídas, infelizmente, foi produzir vinhos de qualidade duvidosa, que demandassem pouco cuidado e, é claro, pouco dinheiro. O maior exemplo, foi o boom do White Zinfandel, que, apesar do nome, é um vinho rosado, e hoje tem sua produção seis vezes maior que a de Zinfandel tinto. Na mesma linha (e estilo, diga-se) do fenômeno Mateus Rosé, os White Zinfandels conquistaram o mercado americano, não por sua qualidade, mas pelo perfil "rosé docinho e barato", o que também contribuiu - e ainda contribui - para a queda de reputação da cepa.  Na verdade, os novos consumidores de vinhos às vezes pensam que a Zinfandel é uma uva branca. Para destrinchar essa aura negra que envolve a Zinfadel, foram organizadas degustações às cegas, com exemplares americanos e italianos. No início dos anos 90, formou-se um pequeno grupo de enólogos, que foi crescendo cada vez, mais preocupados que a Zinfandel estava em perigo de desaparecer. A Zinfandel, foi a espinha dorsal da indústria de vinho da Califórnia há mais de um século, e ela estava caindo em desuso com o público bebedor de vinho. Confrontado com as vendas em queda, e produtores arrancando vinhas e trocando por outras variedades.



A uva é difícil, não há dúvidas, mas, como diz o não menos David Schildknecht, provador da Alsácia, da Alemanha e da Áustria para Robert Parker, "vinhas com essa dificuldade são, provavelmente, muito mais próximas do que se encontrou em 1947 e 1961, nas maiores safras de Bordeaux, do que de vinhas homogêneas, certinhas e de manuseio previsível". Schildknecht provoca, dizendo que o enólogo deveria olhar a planta como se ela o desafiasse: "faça algo de mim, se puder". A degustação mostrou que é possível fazer bons vinhos, como também é perigoso errar na mão.